terça-feira, 29 de março de 2011

Poesia urbana...

"A cidade se abriu para mim.
E me mostrou seus segredos, escondidos nas feridas abertas, nos amores perdidos, nas suas saudades e nas esperanças de tempos melhores.
Suas paredes de concreto então se tornaram frágeis, de papel. 
As palavras eram como a roupa do rei: a desnudavam mais a cada letra."


(Texto que o Rapha, amigo meu, escreveu depois de voltar de um rolê de 'fotografar paredes' - como ele mesmo diz - em Buenos Aires recentemente. Em breve pretendo fazer um post mais 'filosófico' sobre umas considerações bem bacanas que ele me jogou na cara depois dessa viagem! haha)

Os créditos da foto também são dele! Obrigada pelas imagens e insights, Rapha! =)

domingo, 27 de março de 2011

Cores, lavagens e texturas...

As texturas urbanas são abordadas através das cores de tecidos e lavagens dos jeans da coleção. O sujo, poluído, velho, descascado, desgastado, os elementos urbanos, o concreto, o asfalto, as paredes e muros que são porcamente pintados na tentativa de esconder pixações que serão refeitas camada após camada de tinta.

O não uniforme, o respingado, a mancha de tinta, o desbote urbano. Aqui eles saem do status rebaixado e ganham voz a partir das superfícies das peças de roupa.



quinta-feira, 24 de março de 2011

Apresentando...

Deixo aqui uma prévia do release da coleção que será resultado final deste projeto. Como release 100% só sai mesmo depois de estar tudo pronto, o que está aqui é passível de ser alterado! (Mas vamos torcer pra que tudo dê certo e nada precise ser alterado! haha)



Inter(vindo)
Por Thamiris Piló Machado

Arte de rua, graffitis, stencils, stickers, instalações. A mão humana interferindo no espaço público. A subversão do cenário urbano como galeria de arte. As cores fortes misturadas ao concreto, ao asfalto, ao desgaste e à poluição. Esses são os pontos de partida para o desenvolvimento desta coleção. Usando palavras chaves como intervenção, subversão e grafismos, o conceito surge e é traduzido em modelagens interativas e desconexas, estampas e texturas.

O tecido principal é o jeans, que acarreta toda uma história diretamente relacionada ao street. Este aparece em aspectos mais rasurados, com lavagens estonadas e desbotadas, fazendo alusão ao efeito de desgaste do tempo encontrado pelos muros da cidade. Costuras aparentes e bainhas irregulares também dão o ar do inacabado/desgastado urbano.

A estampa "Rabiscos" é inspirada nos grafismos dos graffitis espalhados pela cidade e imprime um ar descontraído às peças, mostrando presença no forro aparente de algumas delas.

A coleção também conta com modelagens assimétricas, abotoamentos desencontrados e peças que abrem ao consumidor a oportunidade de moldá-las da forma que seja mais interessante. É a intervenção do próprio usuário naquilo que o está vestindo.

A partir de todos esses elementos, torna-se impresso nos looks esse universo paralelo da intervenção urbana, pelo qual passamos todos os dias, muitas das vezes sem nos dar conta de toda a arte que nos cerca nesse caos urbano.

quinta-feira, 17 de março de 2011

Referências...

Ontem tropecei em dois tumblrs (sacaram o trocadilho?! hahaha) super viciantes. Ambos conversam sobre a mesma coisa - intervenção urbana né? Claro... Nada de mais. Eles simplesmente postam inúmeras fotos, de intervenções diversas, de todos os tipos possíveis. Grafittis, stenceis, stickers e até mesmo frases escritas em muros por ai. A questão é que eu fiquei hoooooras passeando pelos sites e achei muita coisa bacana. Por isso achei relevante deixar registrado por aqui.

Um é o "Sidewalk Surprises": http://sidewalksurprises.tumblr.com/
O ruim dele é que não dá pra copiar as imagens. Mas aparece uma mensagem tão divertida quando vc clica com o botão direito - "That tickles!" - que nem dá pra ficar muito de mau humor... haha




O outro é o brasileiro "Olho da Rua": http://olhodarua.tumblr.com/
Bacana que eles colocam a procedência da imagem, na maioria das vezes. E com links!



Ficadica pra quem quiser passar horas fuçando as fotos e descobrindo coisas interessantes!
E aproveitando a deixa, também vou citar aqui um que eu descobri ha um tempinho já. O "Escritos en la calle" - http://www.escritosenlacalle.com/


]
A diferença desse site é que ele não mostra intervenções propriamente ditas, mas frases/palavras aleatórias que as pessoas escrevem pelas ruas. No melhor estilo pixação/desabafo. Acho muito interessante essa apropriação quase poética da cidade pela galera. Escrever num caderninho pra que se tá cheio de muro vazio por ai?!
O mais legal do "Escritos en la calle" é que eles dividem as fotos por categoria, de acordo com o que está escrito (exemplo: amor, bronca, filosofia, política, música...), e além de tudo as fotos tem mapa, portanto você consegue saber exatamente aonde está aquele escrito específico. Vale a pena dar uma fuçada por lá!

terça-feira, 15 de março de 2011

Intervenção? O que que pega?

Caracterizada por ser uma abordagem artística, relacionada à intervenção visual do ser humano no meio em que vive, a intervenção urbana é apresentada em diversas formas, de adesivos (ou stickers), stencêis e grafites até instalações artísticas. Tudo que interfira e mude, de alguma forma, o lugar comum da metrópole. Segundo Célia Maria Ramos (1994, p.43), “a intervenção pressupõe um ato consciente de alguém que atua sobre um determinado objeto ou espaço, conferindo-lhe um novo significado”. Na maioria das vezes, é esse o objetivo dessas interferências artísticas na cidade: captar o olhar distraído dos transeuntes e expor idéias a estes, a partir das modificações feitas no espaço urbano, sejam elas desenhos, escritos, encenações ou distorções daquilo que já existe.

Tudo começou com um movimento de contracultura em Paris, em maio de 1968, onde inscrições de caráter poético/político surgiram nos muros como forma de protesto. A partir daí, esses escritos disseminaram-se pelo mundo afora e foram adequando-se à proposta que melhor traduzia a mensagem do autor: frases, imagens, etc.



Grafites das ruas de Paris em 1968. "É proibido proibir" e 
"Como pode pensar livremente à sombra de uma capela?", respectivamente.

Grafites do lado ocidental do muro de Berlim, em 1986.

No universo contemporâneo, a grande polêmica que a arte urbana também traz à mesa, é a quebra do paradigma de que arte é somente aquilo que vemos em galerias e museus. Muitos dos grafiteiros, por exemplo, que começaram desenhando e pintando em muros, hoje são reconhecidos como artistas e expõem seus trabalhos ao redor do mundo. Ao mesmo tempo, essa transposição da arte de rua para o espaço privado (museus e galerias), gera grande discussão, pois, na teoria, a arte de rua é livre e “não encomendada”, e a partir do momento em que é feita por demanda, perde a sua essência.


Os grafiteiros paulistas Os Gemeos já rodaram o mundo, fizeram exposições de
 suas obras e chegaram inclusive a grafitar um castelo escocês do séc. XIII. 


Na moda, o tema já foi usado como fonte de inspiração para os mais diversos propósitos. No entanto, acaba por ser trabalhado em um sentido mais literal, como estampas inspiradas em trabalhos de grafiteiros, ou técnicas parecidas com as usadas pelos artistas de rua, como a técnica de stêncil (que consiste em vazar a tinta sobre um suporte com o desenho recortado).

Algumas marcas já utilizaram o grafite como tema de suas coleções, como a Maria Bonita Extra e Marcelo Sommer, no verão 2008, e os estilistas Beto Lima e Renata Ramos, no 12º Prêmio Rio Moda Hype. A proposta também se estende aos acessórios, como mostrou a Chilli Beans, em uma linha de óculos cujas armações eram pintadas a mão, com aerógrafos e stênceis.

Look da coleção de Marcelo Sommer inspirado no grafite e vestido da Maria Bonita Extra, com
 estampa inspirada em imagens do grafiteiro Bruno Bogossian.